terça-feira, 3 de abril de 2007

Pequeno Manual Sobre o Amor (Parte V)


Da Desilusão
Ou das Expectativas mal criadas e menos bem geridas

Há pessoas que se tornam independentes, auto-suficientes, que se querem aventureiras, modernas, sem preconceitos nem carências. Que queimam os sonhos, afirmam não querer mais do que pode ser oferecido e decidem viver os apetites. E conseguem. E são felizes. Parecem felizes.

Outras há que sonham às escondidas e que nunca perdem a esperança de encontrar a outra metade do céu. E nem sempre conseguem, nem sempre são felizes. Parecem felizes.

Sonhar e acreditar é meio caminho andado para a Desilusão. A solução seria viver cada momento, aceitando o que a vida tão generosa tem para oferecer, sem criar expectativas nem projectar necessidades; possível para o primeiro grupo, mais difícil para o segundo. A promessa de distanciamento nem sempre consegue ser cumprida; há olhares que fascinam, pormenores que prendem, toques que arrepiam, atitudes que se querem nossas.

Estar-se atento aos detalhes, às mudanças subtis que muitas vezes são criadas através dos olhos de quem ainda sonha e tem medo de acordar, pode ajudar na prevenção da Desilusão. Nada como a preparação antecipada para a dor para ajudar a extinguir o fogo que consome a alma - um pouco de amor-próprio, uma boa dose de orgulho e eis que a dor se esvanece e nos abre portas para alternativas esquecidas ou ignoradas. Engolir em seco e olhar em frente, reprimir as lágrimas e sorrir da nossa própria parvoíce, procurar a força que não sabíamos ter e não sucumbir perante o quebrar de laços frágeis.

Sobretudo, não recorrer ao drama nem à tragédia, evitar complicar a vida daquele que não quer, desistir do sonho e afastar o perigo. Dizer não à lamechiche. Sair devagar como quem se abriga da chuva que ainda não começou a cair. Fora de cena quem não é de cena.

A vida existe para lá de cada Desilusão e a dor, por mais leve que seja, fortifica e prepara o próximo embate.

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